Existem muitos distúrbios psicológicos que estão
associados a alterações da pele. Levantamentos feitos por vários centros
dermatológicos dos Estados Unidos, na década passada, mostraram estatísticas
variáveis que indicavam que, entre as pessoas que procuravam os serviços de
dermatologia, de 40% a 70% tinham também algum tipo de distúrbio psicológico.
Há algumas alterações específicas, um pouco mais
determinadas e que são consideradas mais graves. Uma delas é chamada, no jargão
dermatológico, de “ilusão de parasitose”. Nesse caso, a pessoa acha que existe
um bichinho caminhando em sua pele. Ao procurar o dermatologista, ela afirma,
por meio de um depoimento rico em detalhes, que o bichinho está caminhando em
sua pele, e mostra os locais por onde ele já passou. Geralmente, ela apresenta
algum tipo de lesão nesses locais. Muitas vezes, a pessoa traz na consulta até
um vidrinho com restos de sua pele, dizendo que neles está o agente que a está
perturbando. Esse é um quadro considerado grave, uma vez que está associado a
uma psicose, e o dermatologista, apesar das evidências, muitas vezes encontra
muita dificuldade para concluir o diagnóstico. Outro tipo de problema que pode
surgir na área dermatológica é o distúrbio obsessivo compulsivo. A pessoa tem a
obsessão de fazer determinada ação e sente a compulsão (falta de controle) de
fazê-la. Pode-se citar como exemplo desse distúrbio o ato de roer as unhas.
Esse é quadro que a pessoa não consegue controlar. Ela não percebe o que está
fazendo e, quando se dá conta, está roendo as unhas compulsivamente.
Outro exemplo de distúrbio obsessivo compulsivo,
considerado mais grave, é quando a pessoa arranca os cabelos da cabeça ou os
pelos da sobrancelha e, em alguns casos, arranca até os cílios. Trata-se de um
quadro difícil, pois, nesse caso, o dermatologista tem de analisar muito bem o
aspecto clínico para poder ou não excluir todas as possibilidades de estar
ocorrendo um problema dermatológico real.
Nesse caso, após realizar um exame clínico detalhado, o
médico constatará que existem áreas sem cabelo na cabeça do paciente, mas
também há regiões com aspecto normal e áreas com alguns fios de cabelo
quebrados ou com fios de vários tamanhos. Isso porque alguns fios terão sido
arrancados inteiros, outros, quebrados, e alguns estarão crescendo, e não
existe outro tipo de alteração no couro cabeludo, como escamação. A única
alteração percebida será a diferença de tamanho dos fios.
Geralmente, é difícil explicar para a pessoa que é ela
quem está causando o problema. Quanto menos consciência disto a pessoa tiver,
mais grave será o seu caso, pois, embora ela esteja fazendo mal a si mesma, não
admite esse fato. Esse quadro pode também ocorrer em crianças pequenas que
engolem cabelos. Há geralmente associação desse quadro com um ambiente familiar
tenso, que torne a criança confusa e ansiosa.
Ainda há outro quadro que faz parte do distúrbio
obsessivo compulsivo: quando a pessoa se machuca, cutucando-se constantemente.
Geralmente, a pessoa que se machuca dessa forma tem tendência a ter “bolinhas”
na pele do braço ou pelos encravados na perna. Isso porque ela pega aquela
mínima lesão como ponto de partida e começa a machucar-se e, de tanto
cutucar-se, provoca a formação de feridas. Nesse caso, a paciente (trata-se de
um distúrbio mais comum em mulheres) apresenta vários tipos de lesão ao mesmo
tempo – algumas em forma de manchas, outras, de feridas –, quase todas causadas
pela manipulação da pele.
Para o dermatologista, é nítida a diferença entre uma
lesão que a pessoa tenha provocado e outros tipos de lesão, porque no primeiro
caso ocorrem cicatrizes profundas, verdadeiras depressões, principalmente se a
lesão tiver sido causada na perna. No caso da lesão provocada, o tratamento
dermatológico é mais difícil, complicado e em alguns casos nem existe porque a
cicatriz é um processo definitivo da pele, é a maneira como esta se recompõe.
Dependendo do estado da paciente, o dermatologista a
encaminha ao psiquiatra que, algumas vezes, indica-lhe, além de um tratamento à
base de medicamentos, uma terapia. Portanto, em se tratando de distúrbio
obsessivo compulsivo, o medicamento via oral, antidepressivo, é muito
importante e eficaz, porque vai agir na raiz do problema, de fundo psíquico.
Concluindo, a abordagem desse tema é relevante porque
tem-se observado aumento no número de casos de distúrbios obsessivos
compulsivos, que chegam aos consultórios dermatológicos e aos ambulatórios de
serviços públicos. Trata-se de um quadro difícil porque é autodestrutivo. E,
como o primeiro pedido de socorro do paciente é feito ao dermatologista, é
importante que nós, profissionais da área, tenhamos consciência da grande
responsabilidade que temos. Essa responsabilidade consiste em conseguirmos que
o paciente adquira confiança em nós, para que o tratamento seja feito de
maneira completa e tenha o sucesso esperado.
Um comentário:
É incrível a profundidade dos casos, cada post que leio, mais vejo a necessidade de estudo contínuo. Me encanto a cada descoberta nova, a ligação direta, que teremos com outros profissionais nomeados e graduados, que se tornaram parceiros para uma cura completa...
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