sexta-feira, 19 de julho de 2013

Distúrbios psicológicos x alterações da pele

Existem muitos distúrbios psicológicos que estão associados a alterações da pele. Levantamentos feitos por vários centros dermatológicos dos Estados Unidos, na década passada, mostraram estatísticas variáveis que indicavam que, entre as pessoas que procuravam os serviços de dermatologia, de 40% a 70% tinham também algum tipo de distúrbio psicológico.

Há algumas alterações específicas, um pouco mais determinadas e que são consideradas mais graves. Uma delas é chamada, no jargão dermatológico, de “ilusão de parasitose”. Nesse caso, a pessoa acha que existe um bichinho caminhando em sua pele. Ao procurar o dermatologista, ela afirma, por meio de um depoimento rico em detalhes, que o bichinho está caminhando em sua pele, e mostra os locais por onde ele já passou. Geralmente, ela apresenta algum tipo de lesão nesses locais. Muitas vezes, a pessoa traz na consulta até um vidrinho com restos de sua pele, dizendo que neles está o agente que a está perturbando. Esse é um quadro considerado grave, uma vez que está associado a uma psicose, e o dermatologista, apesar das evidências, muitas vezes encontra muita dificuldade para concluir o diagnóstico. Outro tipo de problema que pode surgir na área dermatológica é o distúrbio obsessivo compulsivo. A pessoa tem a obsessão de fazer determinada ação e sente a compulsão (falta de controle) de fazê-la. Pode-se citar como exemplo desse distúrbio o ato de roer as unhas. Esse é quadro que a pessoa não consegue controlar. Ela não percebe o que está fazendo e, quando se dá conta, está roendo as unhas compulsivamente.

Outro exemplo de distúrbio obsessivo compulsivo, considerado mais grave, é quando a pessoa arranca os cabelos da cabeça ou os pelos da sobrancelha e, em alguns casos, arranca até os cílios. Trata-se de um quadro difícil, pois, nesse caso, o dermatologista tem de analisar muito bem o aspecto clínico para poder ou não excluir todas as possibilidades de estar ocorrendo um problema dermatológico real.
Nesse caso, após realizar um exame clínico detalhado, o médico constatará que existem áreas sem cabelo na cabeça do paciente, mas também há regiões com aspecto normal e áreas com alguns fios de cabelo quebrados ou com fios de vários tamanhos. Isso porque alguns fios terão sido arrancados inteiros, outros, quebrados, e alguns estarão crescendo, e não existe outro tipo de alteração no couro cabeludo, como escamação. A única alteração percebida será a diferença de tamanho dos fios.

Geralmente, é difícil explicar para a pessoa que é ela quem está causando o problema. Quanto menos consciência disto a pessoa tiver, mais grave será o seu caso, pois, embora ela esteja fazendo mal a si mesma, não admite esse fato. Esse quadro pode também ocorrer em crianças pequenas que engolem cabelos. Há geralmente associação desse quadro com um ambiente familiar tenso, que torne a criança confusa e ansiosa.

Ainda há outro quadro que faz parte do distúrbio obsessivo compulsivo: quando a pessoa se machuca, cutucando-se constantemente. Geralmente, a pessoa que se machuca dessa forma tem tendência a ter “bolinhas” na pele do braço ou pelos encravados na perna. Isso porque ela pega aquela mínima lesão como ponto de partida e começa a machucar-se e, de tanto cutucar-se, provoca a formação de feridas. Nesse caso, a paciente (trata-se de um distúrbio mais comum em mulheres) apresenta vários tipos de lesão ao mesmo tempo – algumas em forma de manchas, outras, de feridas –, quase todas causadas pela manipulação da pele.

Para o dermatologista, é nítida a diferença entre uma lesão que a pessoa tenha provocado e outros tipos de lesão, porque no primeiro caso ocorrem cicatrizes profundas, verdadeiras depressões, principalmente se a lesão tiver sido causada na perna. No caso da lesão provocada, o tratamento dermatológico é mais difícil, complicado e em alguns casos nem existe porque a cicatriz é um processo definitivo da pele, é a maneira como esta se recompõe.

Dependendo do estado da paciente, o dermatologista a encaminha ao psiquiatra que, algumas vezes, indica-lhe, além de um tratamento à base de medicamentos, uma terapia. Portanto, em se tratando de distúrbio obsessivo compulsivo, o medicamento via oral, antidepressivo, é muito importante e eficaz, porque vai agir na raiz do problema, de fundo psíquico.


Concluindo, a abordagem desse tema é relevante porque tem-se observado aumento no número de casos de distúrbios obsessivos compulsivos, que chegam aos consultórios dermatológicos e aos ambulatórios de serviços públicos. Trata-se de um quadro difícil porque é autodestrutivo. E, como o primeiro pedido de socorro do paciente é feito ao dermatologista, é importante que nós, profissionais da área, tenhamos consciência da grande responsabilidade que temos. Essa responsabilidade consiste em conseguirmos que o paciente adquira confiança em nós, para que o tratamento seja feito de maneira completa e tenha o sucesso esperado.

Um comentário:

Marli Paulino disse...

É incrível a profundidade dos casos, cada post que leio, mais vejo a necessidade de estudo contínuo. Me encanto a cada descoberta nova, a ligação direta, que teremos com outros profissionais nomeados e graduados, que se tornaram parceiros para uma cura completa...